21 de jun. de 2014

A guerra das chuteiras

No dia 21 de junho de 1970, no Estádio Azteca, no México, Pelé protagonizou uma cena que entrou para a história do marketing esportivo. Minutos antes do apito inicial, o camisa 10 do Brasil sinalizou para o árbitro com a mão e pediu um segundo para “amarrar as chuteiras”. Na verdade, o que o rei do futebol queria era mostrar o logo da alemã Puma, sua então patrocinadora. A cena protagonizada pelo craque antes da memorável partida na qual a Seleção Canarinho bateu a Itália por 4 x 1 e conquistou definitivamente a taça Jules Rimet rendeu milhões de dólares ao jogador e serviu para intensificar o que ficou conhecido como Guerra das Chuteiras.

Na Copa de 2014, tão dura quanto a disputa entre as seleções é a batalha travada entre os grandes fabricantes, como Adidas, Nike e Puma, para fisgar os consumidores brasileiros, que gastam anualmente cerca de R$ 6 bilhões com a compra de calçados esportivos. A exemplo das emissoras de tevê, escoladas em relação ao chamado “marketing de emboscada”, os fabricantes de artigos esportivos passaram a usar expedientes mais criativos para chamar a atenção. É nesse contexto que entra a contratação de jogadores que têm mais chances de brilhar ao longo do torneio, além da adoção de uma cartela de cores inusitadas ou de formas ousadas.

Foi o que fez a americana Nike, com sua linha de chuteiras dotadas de “gola”. O visual intrigante e o amarelo em tom forte da chuteira usada por Neymar e David Luiz, por exemplo, chamaram a atenção dos torcedores. “Para chegar a esse modelo desenvolvemos cerca de 180 protótipos”, diz Alexandre Alfredo, diretor de comunicação da Nike do Brasil. Segundo o porta-voz, o trabalho começou assim que o juiz apitou o fim do jogo entre Espanha e Holanda, em 2010, na África do Sul, vencido pela “Fúria”.
 

A expectativa em relação a 2014 se tornou maior ainda pelo fato de o Brasil ser o terceiro maior mercado da Nike, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Outra que apostou em inovações para a Copa 2010 foi a Adidas. Dona da bola do jogo, batizada de Brazuca, a empresa alemã também aposta em suas chuteiras estilosas para bater a meta de atingir faturamento global de € 2 bilhões apenas com artigos relacionados a futebol. Ao menos dentro de campo, a Adidas começou com o pé direito. Graças ao desempenho magistral do craque Arjen Robben, maestro da seleção holandesa.
 

O jogador calça uma das chuteiras da linha adizero f50, quadriculadas majoritariamente em preto e branco, para contrastar com o verde dos gramados. Uma exceção é o modelo usado pelo argentino Leonel Messi, personalizado nas cores azul e branco, da bandeira de seu país. “A chuteira predominantemente preta, usada por atletas como Pelé, na Copa de 1970, não tem mais vez no mercado”, afirma Rodrigo Messias, diretor da Adidas para a Copa 2014. Não tem mesmo. Tanto que a própria Puma investiu em chuteiras com um pé rosa e outro azul claro para calçar sua seleção de craques, que inclui o italiano Mario Balotelli e o camaronês Samuel Eto’o. 
 

De acordo com Messias, a empresa desenvolveu modelos distintos baseados nas características de cada setor do time: defesa, meio-campo e ataque. Não por acaso, desempenho é também a pedra de toque do investimento tecnológico da Nike no que se refere às chuteiras, presente nos calçados desenvolvidos para as linhas Magista e Mercuril que possuem uma “gola” que integra os pés aos tornozelos em uma única peça, fazendo os atletas esquecerem que estão calçados. “A ideia é recuperar o mesmo espírito das peladas, nos quais jogamos descalços”, diz Alfredo. O conceito foi testado, na prática, com a ajuda de craques como o brasileiro Neymar. Por sua vez, a Adidas aposta em características como precisão e velocidade. O possível duelo Neymar-Robben tem tudo para ser um show de talentos.

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Nos pés dos atletas

Cor, tecnologia e forma. Como as maiores fabricantes de chuteiras pretendem tabelar com os consumidores

ADIDAS

A fabricante alemã é líder do segmento de artigos para futebol e aposta em calçados com pegada high-tech, destinadas a melhorar a performance dos jogadores. Para isso, criou modelos específicos para zagueiros, meio-campistas e atacantes.

NIKE

Com a linha Magista, que calça os pés do craque Neymar, a empresa americana aposta em uma nova geração de calçados com “gola”, cujo objetivo é fazer com que o atleta imagine estar jogando descalço. Sua versão final foi precedida de 180 protótipos.

PUMA

Terceira força na área de calçados esportivos e de performance, a empresa alemã inovou no estilo ao lançar a chuteira com um pé de cada cor. A Puma EvoPower e a EvoSpeed são usadas por craques, como o italiano Mario Balotelli.
 
 
 

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