3 de dez. de 2012

Fábricas gaúchas de calçados seguem em busca de recuperação

A indústria calçadista do Rio Grande do Sul ainda enfrenta as sequelas da perda de competitividade recente, com fechamento de empresas e queda nas exportações, e tenta esboçar a recuperação do bom desempenho dos anos pré-crise. De janeiro a outubro de 2012, o setor contou com 116,7 mil empregados, retração de 4,2% frente igual período de 2011, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Um cenário pouco animador, mas que já foi pior não muito tempo atrás. A situação atual do setor pode ser comparada a um copo abastecido com água até a metade. Há quem interprete que o recipiente esteja meio cheio e há quem o considere meio vazio. 

“Não podemos considerar 2012 um ano ruim, estamos mantendo o padrão do ano passado. Acredito que, com as contratações de final de ano, podemos até superar o número de empregados de 2011. Começo a perceber uma retomada lenta do setor. Estamos com a luz amarela acesa, mas a situação não preocupa tanto”, destaca o vice-presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias do Calçado e do Vestuário do Rio Grande do Sul (Feticvergs), João Pires. Segundo ele, com as admissões de última hora, o Estado pode fechar o ano com 130 mil funcionários na atividade.

Por outro lado, o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, acredita que a situação gaúcha continua “preocupante”. “Com a produção no Centro e no Nordeste do País, fica difícil para o Rio Grande do Sul competir. O que vem mantendo o Estado no mercado é a diferenciação do produto, de maior valor agregado, que não tem produção suficiente em outros estados. Mas é uma questão de tempo até que haja concorrentes nesse nicho”, explica.

Na indústria gaúcha, na visão do dirigente da Abicalçados, uma retomada consistente passa pela concessão de benefícios fiscais por parte do governo estadual, especialmente em relação ao ICMS. Entre os fatores externos que também afetam o segmento nos âmbitos regional e nacional está a concorrência com os produtos importados e o câmbio, que, apesar da valorização ao longo de 2012, não teve impacto imediato no negócio.
 
No quesito emprego, os resultados gaúchos pouco destoam da média do País. O Brasil, entre janeiro e outubro, contou com 360,4 mil trabalhadores na linha de produção, decréscimo de 2,5%. Alguns polos até mostram indicadores positivos, como Franca, em São Paulo, que viu, em setembro, a quantidade de empregados chegar a índices semelhantes aos da década de 1990. “Franca teve uma recuperação, mas pode ser uma questão episódica. Por enquanto, não dá para concluir a respeito disso”, ressalta Klein.

Nas exportações, o Brasil cambaleia. Os negócios internacionais resultaram, até agora, em pouco mais de US$ 1 bilhão, uma queda de 15,3% na comparação com 2011. No Rio Grande do Sul, o tombo é maior. Os US$ 487,3 milhões captados até outubro representam uma perda de 34,3%.

Quanto ao mercado nacional, Klein vê sinais de esgotamento na demanda interna, que vem conseguindo sustentar o crescimento do setor mesmo com a retração nas vendas ao exterior.
 
Já o coordenador do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos no Estado (Dieese-RS), Ricardo Franzoi, adiciona outra razão para a falta de reação do segmento. “As medidas do Plano Brasil Maior, como a desoneração de folha, ainda não tiveram impacto no setor calçadista até o momento”, analisa Franzoi.
 
 
 

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