Burocracia, insegurança nos negócios e milhões de dólares a receber. Esse é o cenário que vem deixando inquietos empresários brasileiros que resolveram apostar no mercado da Venezuela. Prejudicados pela política de câmbio centralizado, praticada pelo governo venezuelano, há cinco meses as empresas de setores considerados “semiprioritários”, como confecções e calçados, vêm tendo ainda mais dificuldades para receber pelas exportações que enviaram ao país.
O limite mensal para liberação de divisas por empresa caiu de US$ 350 mil para US$ 100 mil, o que deixa muitos importadores que negociam a compra de produtos brasileiros sem condições de honrar compromissos com seus fornecedores. Os únicos setores considerados prioritários para o recebimento de seus créditos são os de alimentos e medicamentos. Os demais entram na fila para receber. Algumas empresas estão com pagamentos atrasados há dois anos. Entre elas fabricantes como Picadilly, Dudalina, Alpargatas, Vulcabrás, Boticário e Pirelli, que fornecem para lojas instaladas na Venezuela, além de companhias aéreas como TAM e Gol, que vendem passagens no país. “O que vem acontecendo é um calote”, disse à DINHEIRO Alberto Pfeifer, diretor-geral do Conselho Empresarial da América Latina (Ceal).
O problema é tão grave que o responsável pelo setor comercial da embaixada brasileira em Caracas faz reuniões sistemáticas na Comissão de Administração de Divisas (Cadivi), o órgão que controla a troca de bolívares por dólares, para tentar liberar os pagamentos das exportações brasileiras e de outros países. Sem sucesso, até aqui. Segundo José Francisco Fonseca Marcondes, presidente da Federação de Câmaras de Comércio e Indústria Venezuela-Brasil, a operação tartaruga para a liberação de divisas não se restringe às exportações brasileiras, mas afeta a todos os países que vendem para a Venezuela. O controle de divisas data, na verdade, de 2004, com a criação da Cadivi. Mas a burocracia se intensificou a partir de 2007, quando o governo passou a classificar certos produtos como menos prioritários. O quadro ficou mais dramático com a redução do limite por operação neste ano.
Operação tartaruga: burocracia do presidente Hugo Chávez atrasa pagamento de produtores brasileiros
O problema é tão grave que o responsável pelo setor comercial da embaixada brasileira em Caracas faz reuniões sistemáticas na Comissão de Administração de Divisas (Cadivi), o órgão que controla a troca de bolívares por dólares, para tentar liberar os pagamentos das exportações brasileiras e de outros países. Sem sucesso, até aqui. Segundo José Francisco Fonseca Marcondes, presidente da Federação de Câmaras de Comércio e Indústria Venezuela-Brasil, a operação tartaruga para a liberação de divisas não se restringe às exportações brasileiras, mas afeta a todos os países que vendem para a Venezuela. O controle de divisas data, na verdade, de 2004, com a criação da Cadivi. Mas a burocracia se intensificou a partir de 2007, quando o governo passou a classificar certos produtos como menos prioritários. O quadro ficou mais dramático com a redução do limite por operação neste ano.
A medida foi adotada pelo governo para evitar a fuga de dólares, que ameaçaria a economia venezuelana. “Até 2010, as dívidas se resolviam com mais facilidade por conta da forte ligação entre o ex-presidente Lula e o presidente venezuelano Hugo Chávez”, diz Fernando Portela, diretor-executivo da Câmara de Comércio e Indústria Venezuelano-Brasileira (Cavenbra), que representa grandes importadores venezuelanos e companhias brasileiras como Gerdau, Marcopolo e Petrobras. Em Brasília, no entanto, ainda não há reconhecimento oficial do problema. Fabricantes de calçados, por exemplo, já levaram suas queixas ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Segundo a entidade que representa o setor, a Abicalçados, as empresas teriam recebido uma sinalização de que o País buscaria um entendimento com o governo venezuelano.
Rui Hess, diretor da Dudalina: "Considero que o governo venezuelano está me devendo,
já que as operações são autorizadas"
já que as operações são autorizadas"
A assessoria de imprensa do MDIC afirmou à DINHEIRO que o ministério desconhece problemas de associados da Abicalçados em receber dólares pendentes. O ministro-conselheiro da embaixada venezuelana no Brasil, Efren Martin, também diz desconhecer os atrasos no pagamento. Enquanto o calote branco continua, as consequências podem ser vistas nos números da balança comercial. Nos últimos anos, as exportações para a Venezuela vêm caindo – embora o país ainda continue sendo o segundo maior destino dos produtos brasileiros na América do Sul. Em 2008, o País vendeu US$ 5,1 bilhões para os venezuelanos. Nos anos seguintes, a combinação da recessão, que atingiu o país em 2009 e 2010, com a burocratização do processo de envio de divisas, derrubou as exportações. No ano passado, as vendas foram de US$ 3,8 bilhões.
Neste ano, até novembro, houve uma pequena recuperação, fechando em US$ 4,1 bilhões. A dificuldade em receber levou algumas empresas a desistir de exportar para a Venezuela. É o caso da fabricante de camisas Dudalina, de Blumenau (SC), que há três anos exportava US$ 300 mil, mas abandonou os planos de abrir dez franquias da marca depois que passou a ter dificuldade em receber. “Considero que o governo venezuelano está me devendo, já que todas as importações e exportações têm que ser rigorosamente autorizadas”, diz Rui Hess, diretor e um dos controladores da empresa catarinense. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) confirma que outras empresas do setor estão sofrendo com o mesmo problema.
“Tem sido frequente a queixa dos empresários brasileiros com dificuldade em receber valores exportados à Venezuela”, diz a associação em nota. Na indústria de calçados, as vendas caíram de 9,7 milhões de pares, em 2008, para 1,7 milhão de pares neste ano, até outubro. A gaúcha Picadilly, que produz calçados femininos e tem na Venezuela seu segundo maior mercado, entre os 90 países para os quais exporta, já sentiu uma queda de 20% nas vendas com as restrições de pagamento em 2011. Para o próximo ano, a situação deve ficar ainda mais complicada. “Estamos prevendo uma queda de 50% em 2012”, disse à DINHEIRO Micheline Grings Twigger, diretora de exportação da Picadilly.
Fonte: ISTO É dinheiro por Cristiano Zaia
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