8 de fev. de 2012

Ameaça nas relações entre Brasil e Argentina preocupa industriais

Depois da retenção de cerca de 3 milhões de pares de calçados brasileiros nas aduanas argentinas, no ano passado, uma nova resolução que entrou em vigor na semana passada volta a ameaçar as relações comerciais entre os países. O cadastro prévio de intenção de exportações para a obtenção de licenças automáticas, exigido pela União Industrial Argentina (UIA), já demonstra que não cumprirá o prazo estipulado de três dias para a liberação. Em alguns casos, a espera supera quatorze dias para a concessão das autorizações.

Principal comprador de componentes de calçados brasileiros, com cerca de 30% do total exportado, o país vizinho, ao lado dos Estados Unidos, Alemanha, México e Paraguai, é responsável pela absorção de 53% dos embarques nacionais. Os segmentos que apresentaram maior crescimento em 2011 foram o de cabedal (17%), produtos químicos para couro (16%) e saltos e solados (17%). Em comparação ao mesmo período de 2010, os maiores acréscimos foram registrados em palmilhas (46%), produtos químicos para calçados (34%) e cabedal (21%).

Por isso, a determinação do governo da Argentina deixa novamente a Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal) em alerta. O presidente da entidade, Oséias Schroeder, afirma que a nova determinação anula o regime de cotas instituído entre os países há cinco anos, que já danificava as relações bilaterais. “Quando incrementamos muito as exportações para a Argentina, eles instituíram o sistema de cotas. Chegamos a exportar 20 milhões de pares e no ano passado fechamos em apenas 14 milhões de pares. O que ocorre é que esta cota, que já era prejudicial, deixa de existir, e a economia argentina passa a funcionar como o fiel da balança no momento de conceder as liberações de importações e isso pode ser extremamente prejudicial ao setor”, explica.

Segundo Schroeder, a entidade pretende trabalhar em ações junto ao governo e às câmaras setoriais argentinas para evitar maiores danos. “É uma relação entre os países que está sendo afetada. Também é de interesse que a indústria seja abastecida com os nossos componentes. Na verdade, um desabastecimento, atualmente, significa redução drástica na capacidade produtiva argentina de calçados e isso não é de interesse da indústria”, destaca o dirigente.

Por outro lado, o presidente da Apex Brasil, Maurício Borges, minimiza os prejuízos na relação comercial entre o Brasil e o país vizinho. “É uma norma argentina e temos que tentar entender melhor e antecipar o processo para manter os prazos estipulados. É um grande parceiro do Brasil e que respeita as regulamentações da Organização Mundial do Comércio (OMC) e do Mercosul.” Segundo Borges, o que ocorre é uma dificuldade econômica para a qual se está buscando solução. “Esta é uma postura argentina que já vem acontecendo há pelo menos dez anos. Não podemos depender apenas da Argentina. É preciso diversificar os mercados”, avalia o presidente da Apex.
 

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