17 de set. de 2013

Calçadistas de Franca culpam câmbio instável por prejuízo à exportação

A alta do dólar geralmente é um sinal de boa margem de vendas no exterior para os calçadistas de Franca (SP), um dos principais polos produtores de sapato masculino do Estado de São Paulo. Mas a instabilidade cambial da moeda norte-americana tem prejudicado os negócios do segmento, segundo José Carlos Brigagão, presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados de Franca (Sindifranca).

A falta de uma perspectiva para o fechamento deste e para o próximo ano é confirmada por ele e pelo economista Hélio Braga, do Centro Universitário UniFacef, mesmo diante de números positivos registrados até agosto. A Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do governo federal, não comentou o assunto. Procurado pela reportagem, o Banco Central informou que não comenta dados referentes a câmbio, mas divulgou nota confirmando que o presidente do Bacen, Alexandre Tombini , cita medidas para estabilizar a cotação do dólar.

Na projeção mais otimista, o setor calçadista prevê fechar 2013 com R$ 2,9 bilhões em exportações, 7,4% a mais em comparação a 2012, mas considerado aquém do potencial de rendimento que o câmbio deveria gerar, na opinião do presidente do sindicato. Com base em uma tendência de queda entre julho e agosto, e com um resultado “fraco” no principal evento do setor, a Feira Internacional de Moda em Calçados e Acessórios (Francal), realizada em julho, Brigagão acredita que o saldo de vendas para o exterior pode ser ainda pior, já que todos os pedidos para este ano já foram concluídos.

"Começamos este ano positivo com relação ao ano passado. Em janeiro tivemos alta de 14,4% no acumulado em número de pares vendidos. Quando chegou em julho, foi de 22,57%. Só que em agosto a alta caiu para 17% em pares. Em dólares também caiu. Começou com alta de 20,05% em janeiro e de 11,11% em julho. Em agosto, caiu para alta de 6,95%", disse o representante das indústrias.

Embora a moeda americana tenha subido a um patamar considerado ideal para exportações na opinião dos fabricantes – entre R$ 2,20 e R$ 2,40 –, barateando o par de calçado, Brigagão justifica que a instabilidade cambial diante de políticas para valorização do Real e problemas de ordem internacional que causam insegurança nos mercados compradores, como a guerra civil da Síria, dificultam a vida dos exportadores de Franca.

A falta de um câmbio estável para intermediar as negociações espanta tanto importadores quanto fabricantes de sapatos, inseguros de fecharem contratos para 90 ou 120 dias, por conta da imprevisibilidade da moeda nos meses seguintes, diz Brigagão. Fatores que ainda são agregados à crescente atuação dos chineses, a embargos comerciais na Argentina e à demora no repasse dos valores referentes ao ICMS isento das transações internacionais. "Não existe confiança, não tem política clara do governo com relação às exportações. Todos os fatores que influenciam não são confiáveis para nós. Para este ano, as exportações já morreram. Para o ano que vem é uma incógnita."

O empresário José Rosa Jacomete, de 60 anos, confirma as dificuldades impostas pela variação cambial sobre os negócios da Anatomic Gel, fábrica de médio porte que dedica 40% de sua produção diária de 1,5 mil pares de calçados para o exterior. "A gente não tem uma política cambial definida. Estava R$ 1,60, depois bateu R$ 2,40. Isso não é bom, porque não tem como negociar o preço que vou colocar. Não há segurança no mercado", afirmou.

A alternativa tem sido optar por uma cotação intermediária para evitar prejuízos. "Acabei de fechar o negócio, ligo no banco e já travo o câmbio do dia. Se o dólar subir deixo de ganhar, mas se baixar não perco", disse o empresário.

Segundo o economista Hélio Braga, mesmo com a diversificação de mercados conquistada pelas indústrias nos últimos anos, é um desafio para o município manter seus índices de negócios fora do país, bem como retomar os volumes de exportação de duas décadas atrás - em 1993, foram 15 milhões de pares exportados, principalmente para os Estados Unidos .

"Não há cenário otimista, mesmo com o dólar nesse patamar. Quando a economia mundial vai bem, o dólar não contribui. Quando você tem uma crise global, o dólar parece que funciona como um estimulante, mas a crise global tem desestimulado a exportação para outros países", afirmou.

Couro mais caro
 
Se o dólar barateou o produto nacional, por outro lado encareceu insumos como o couro. A grande procura internacional pelo material encarece a matéria-prima brasileira, menos disponível para as indústrias do país. De acordo com Jacomete, a alteração no valor da moeda americana incide rápido sobre o material, que já está ao menos 10% mais caro. "Os curtumes estão exportando tudo e para nós isso começa a dificultar na questão da qualidade, na compra. A procura passa a ser maior."

Banco Central
 
A assessoria de imprensa do Banco Central informou que não se posiciona sobre a movimentação do câmbio, mas divulgou nota em que o presidente Alexandre Tombini cita medidas para estabilizar a cotação, como venda de dólares com compromisso de recompra e leilões de swap cambial - em que o BC oferece remuneração em dólares a investidores em troca de remuneração em juros. "Esse programa, além de conferir previsibilidade, tem como objetivo prover proteção cambial aos agentes econômicos durante esse período de transição da economia internacional", comunicou.

A Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, foi procurada, mas solicitou que a questão fosse diretamente tratada com o Bacen.


Fonte: G1


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